Preparando a Oficina GLAM Wikimedia para o Museu do Indio: reflexões e potenciais para os acervos em rede e a informação livre

Desde os tempos em que comecei a atuar nos movimentos e coletivos independentes por meio da Internet algo sempre foi claro e cristalino sobre os objetivos que tínhamos e nos uniam: a busca pela liberdade da informação e os ganhos sociais que daí derivam como forma de socializar valores e fortalecer o pacto social que nos une.

Sempre acreditei que uma infra-estrutura livre e potencialmente escalável poderia ampliar o acesso, melhorar as condições de se informar, de produzir conhecimento, de ativar redes sociais de mobilização e organização em torno de causas pontuais mas capazes de propor novos modos e paradigmas de organização social. Muitas experiências e quase duas décadas depois, muita coisa confirma essa visão e muita coisa se aprende de como é complexo, difícil e trabalhoso criar as condições para as experiências de abertura da informação possam alcançar o potencial que esperamos dela.

Ao trabalhar com acervos e se dedicar a entender as instituições memoriais, o campo dos museus, em específico, e sua cultura institucional nos últimos 5 anos foi possível entender o valor social desses acervos, o potencial de organização do trabalho e o quanto ainda precisa ser feito para criarmos condições reais de abertura e socialização das coleções em rede. Temos feito alguns avanços nessa área e procurado aprender os caminhos necessários para que muito mais possa ser feito. No entanto, ao conhecer o movimento GLAM e seus desdobramentos no universo da infraestrutura informacional da Wikimedia Foundation, abriu-se um universo de possibilidades que enxergo como absolutamente complementares aos esforços e exercícios que temos feito no âmbito do projeto Tainacan. Dessa forma, tenho procurado identificar oportunidades para que possamos experimentar como fazer isso, como entender essa nova forma de produzir informação livre e como ela afeta o modo como temos trabalho em nossa busca por novas maneiras de organizar, disponibilizar e ativar redes de apropriação dos acervos das instituições memoriais brasileiras.

Em julho desse ano surgiu a oportunidade de organizarmos uma oficina para iniciar um trabalho de abertura do acervo do Museu do Indio/FUNAI na Wikimedia como um projeto GLAM, para além de todas as ações que já temos feito como laboratório para reorganização dos acervos digitais do museu a partir do Tainacan.

Ao longo desse processo, a Anna e só, uma nova bolsista que chegou ao lab nesse ano e já vinha com experiências de trabalho no universo da Wikimedia Foundation, iniciou um importante trabalho de pesquisa de referências e materiais que poderiam nos auxiliar a adquirir conhecimento desse universo e nos prepararmos para lidar com essa nova forma de produzir informação livre. Considerando a importância desse trabalho e no desejo de facilitar o acesso a essa produção de referências, organizo aqui abaixo parte dessa pesquisa:

  • Uma das coisas mais importantes a compreender desse trabalho é o fluxo de etapas e como elas devem ser encadeadas para que consiga tratar a informação da forma adequada e prepará-la para que possamos explorar seu potencial em relação as plataformas que serão utilizadas. Há aqui um detalhamento do fluxo de trabalho de dados estruturados. Vale dizer que há uma grande convergência entre esse fluxo proposto e o fluxo que nós temos pesquisado em nosso próprio processo de tratamento de dados para abertura de acervos por meio do Tainacan, o que já está mapeado no artigo que apresentarei no XIX ENANCIB (Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação) em outubro deste ano. Segue abaixo uma visão sintética desse fluxo de trabalho:
Fluxo de trabalho com dados estruturados
  • Um resumo das iniciativas GLAM no Brasil e com importantes referências para outras experiências pelo mundo;
  • Um excelente e bem didático guia de como compreender a Wikipedia e outros projetos da Wikimedia Foundation. Dá uma bela visão do potencial disso que temos chamado de uma infraestrutura pública de informação livre;
  • Ferramenta de gestão de projetos Outreach Dashboard e com um detalhamento dos principais projetos brasileiros relacionados ao mundo GLAM. Por aqui, inclusive, se pode conhecer o impacto das ações, os demais participantes e achar caminhos de engajamento em outras iniciativas em andamento;
  • Apresentação Structured Data and Wikidata partnerships apresentada em julho de 2018 na Wikidatamania por Sandra Fauconnier e Andrew Lih. O material faz uma introdução ao workflow de trabalho com a Wikidata e Commons, ajudando a compreender em mais detalhes esse fluxo de trabalho que mencionei acima.
  • o software que vamos usar para trabalhar os dados das coleções, o PattyPan;
  • por fim, uma matéria interessante do El País contando um pouco mais da Wikipedia e suas relações com uma internet na era da pós-verdade.

 

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